Plantas carnívoras em Portugal

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Plantas carnívoras em Portugal

Para Portugal estão referênciadas oito espécies de plantas carnívoras espontâneas, pertencentes a duas famílias Droseraceae e Lentibulariaceae, no entanto, a ausência de estudos recentes de biologia, ecologia e distribuição não permite afirmar, com absoluta certeza, que todas essas espécies ainda possam ser encontradas em território nacional. De modo a desvendar o misterioso mundo das plantas carnívoras que existem em Portugal, segue-se, uma breve caracterização das diferentes espécies.

Esta caracterização, inicia-se pelas orvalhinhas, pertencentes á família Droseraceae, que são pequenas plantas carnívoras que surgem em locais húmidos ou pântanosos. Tratam-se de plantas com uma distribuição ubíqua e das cerca de noventa espécies conhecidas podemos encontrar duas em Portugal Drosera rotundifolia e D. intermdia. No nosso País, as duas espécies de orvalhinhas encontram-se quase confinadas ao norte do rio Tejo, sendo que a D. rotundifolia surge quase exclusivamente a norte do rio Vouga.

São plantas vivazes que raramente ultrapassam os vinte centímetros de diâmetro. As suas folhas modificadas, com uma forma idêntica á mão humana, encontram-se recobertas por aproximadamente duzentas glândulas pediculadas recobertas por mucilagem.
Logo após o contacto com a presa, geralmente pequenos insectos que pousam inadvertidamente sobre as folhas, as glândulas pediculadas começam a curvar-se de modo a envolver a preciosa refeição.
Segue-se a acção das enzimas digestivas que são libertadas pelas glândulas e a absorção dos produtos assimilveis do insecto.
Acabado todo o processo, as glândulas e a folha retomam a posição inicial, sendo bastante comum encontrar os restos mortais dos últimos insectos que foram capturados e digeridos pela planta.

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Drosera rotundifolia

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Drosera intermédia

Ainda na família Droseraceae é importante destacar a ocorrência de um endemismo ibero-marroquino: a erva-pinheira-orvalhada (Drosophyllum lusitanicum link). Esta designação pela qual é conhecida deve-se ao facto da planta estar coberta por gotas brilhantes de mucilagem, fazendo lembrar o orvalho matinal. uma planta com cerca de vinte a trinta e cinco centímetros de altura, que ocorre em solos secos, siliciosos ou xistosos, estando confinada a algumas populações isoladas ao longo de uma estreita faixa litoral do nosso País.
Quase todos os estudos existentes sobre esta planta resultou do trabalho de botânicos portugueses, tais como: o Prof. Carlos Frana, o Prof. Aurélio Quintanilha e o Prof. Abílio Fernandes.

Drosophyllum lusitanicum
Drosophyllum lusitanicum

As restantes carnívoras que ocorrem espontaneamente em solo português incluem-se na família Lentibulariaceae.
Trata-se de uma família com enorme heterogeneidade morfológica, onde se incluem plantas que vivem tanto em lugares húmidos(por ex. as pinguicolas) como em lugares completamente submersos (por ex. as utricularias).

No nosso país encontram-se apenas duas espécies Pinguicula vulgaris e P. lusitanica.
P. lusitanica são pequenas plantas com raízes pouco desenvolvidas e que se distinguem das outras plantas por apresentarem uma pequena roseta de folhas aplicadas ao solo, do centro da qual emerge, na época da floração, a respectiva haste floral que suporta uma única flôr.
As folhas são geralmente de côr verde-clara e apresentam os bordos ligeiramente enrolados, a parte superior revestida por glândulas que produzem mucilagem que funciona como primeiro mecanismo de captura dos insectos. Após sentir a presença dos insectos a debaterem-se para se libertarem do visco que os aprisiona, inicia-se o enrolamento da folha de modo a envolver melhor as presas nas enzimas digestivas.
Os insectos são atraídos para as folhas das pinguicolas através de um intenso odor a cogumelos putrefactos exalado pela planta. A outra espécie(Pinguicula vulgaris), possui um aspecto bastante similar ao anterior, diferenciando-se dela apenas pelas suas maiores dimensões e pela côr mais escura das suas flores. A P. vulgaris é sem dúvida, a planta carnívora mais rara do nosso país, uma vez que só é conhecida uma única localização em Portugal. Já o mesmo não acontece com a P. lusitanica, que possui várias localizações ao longo do litoral a norte do rio Vouga.
Aliás, esta espécie encontra-se associada ás orvalhinhas, uma vez que ambas possuem idênticas exigências climáticas.

Pinguicula lusitânica 2Pinguicula lusitânica
Pinguicula lusitânica

Pinguicula vulgarisPhotobucket
Pinguicula vulgaris

Resta falar sobre as Utriculárias que pertencem a um género com uma distribuição ubíqua e que inclui o maior número de espécies: cerca de trezentas.
Em Portugal podem encontrar-se três dessas espécies Utricularia subulata, U. gibba e U. australis.
A primeira de caules capilares e subterrâneos, que se julga poder estar já extinta no nosso país, uma vez que não é vista em território nacional desde dos anos quarenta do século passado, enquanto as duas últimas são hidrófitos submersos ou flutuantes que habitam as lagoas e pântanos de água doce.
Pelo facto de viverem completamente imersas, estas plantas são das mais desconhecidas de todas as plantas carnívoras, uma vez que são difíceis de observar, excepto na altura de floração, que vai de Junho a Setembro, em que as flores de côr amarelada se elevam acima da superfície da água denunciando a sua presença.
As utriculárias são desprovidas de raízes e possuem um caule muito fino sobre o qual se inserem, formações foliceas. Distribuídas e ligadas aos líbulos foliares por curtos pedínculos, encontram-se pequenas vesculas ou utrículos, que constituem armadilhas altamente especializadas, com que estas plantas capturam as suas presas aquáticas: crustâceos e larvas de insectos.

Dado o grande número de espécies existentes neste género, é natural que exista uma enorme variedade morfológica de utriculrias, no entanto, o funcionamento das suas armadilhas idêntico em todas elas: os utrículos so pequenos sacos com uma única abertura, junto qual existem, normalmente, pêlos sensitivos que detectam a presença das pequenas presas.
Quando algum animal aquâtico estimula os pêlos sensitivos, o utrículo aspira-o em milésimos de segundo, enquanto a presa se vai debatendo no interior do utrículo, a planta vai libertando as enzimas digestivas que acabam por matar e digerir a próxima refeição e para terminar todo este minucioso processo, resta planta absorver os nutrientes do interior da sua armadilha.
Segundo investigações mais recentes, nas províncias situadas a norte do rio Douro, constata-se que em muitas das localizações identificadas no século passado estas plantas já se extinguiram.

Utricularia bulata Utricularia gibba Photobucket

Só para referir alguns exemplos, poder-se-à afirmar, que a D. intermdia, a U. australis e a P. lusitanica já desapareceram dos arredores do Porto (Pedras Rubras, Boa Nova e Santa Cruz do Bispo). Também a D. lusitanicum existente na serra de Santa Justa, em Valongo, corre o risco de desaparecer devido ao despejo ilegal de resíduos, movimentação de terrenos e ao pisoteio resultante da prática de actividades de ar livre.
Numa das suas localizações nesta serra, a espécie já se encontra extinta.
Dada a reduzida distribuição geográfica da maioria das plantas carnívoras em Portugal, seria necessário e importante despertar novamente o interesse para estas plantas que há muito deixou de ser visto como um milagre da natureza e que vai desaparecendo silenciosamente do nosso património botánico sem sequer ter sido visto e conhecido pela esmagadora maioria dos portugueses que geralmente até desconhece que estas plantas existem em Portugal.

1 comentários:

Anónimo disse...

amei...
fantastico !
espero que surja mais e mais !

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